Segundo a Conab a área planta com culturas de verão no RS corresponde a aproximadamente 6,8 milhões de hectares. Ao mesmo tempo, a área deixada para o cultivo com trigo é de 800 milhões de hectares. Fazendo a conta entre um número e outro, tem-se que cerca de 6,0 milhões de hectares são plantados com alguma cultura para produção de palhada para a semeadura direta dos cultivos de verão, algo necessário dentro da técnica do plantio direto.
Mas o que fazer com estas restevas? Conforme o agrônomo, produtor rural e diretor executivo da Geoplan Soluções em Agronegócio, Cristiano Gotuzzo, dentro do planejamento de produção da propriedade é possível utilizar esta área plantada para formação de palhada integrada ao pastejo direto de animais nos diferentes sistemas pecuários existentes, “assim podemos melhorar os índices da pecuária tradicional da metade sul, e de outras regiões brasileiras.
Para isso, segundo ele, é preciso quebrar alguns paradigmas. Por exemplo, buscar um arrendatário-parceiro e não um extrativista dos recursos naturais do solo que só visa o máximo de produção com o menor investimento sem pensar na sustentabilidade do sistema. “Entender que não existe a lavoura de soja isolada da pastagem e sim que estamos trabalhando os sistemas integrados. Que a adubação que faremos tanto na lavoura quanto na pastagem será para fertilizar o sistema e não as culturas individualmente e que o animal dentro desse sistema poderá trazer benefícios para o cultivo de verão uma vez que irá acelerar o processo de aumento da matéria orgânica do solo que constitui a base de todos os processos que ocorrem no solo e no desenvolvimento das plantas”, afirma Gotuzzo.
Confirmando o que o agrônomo diz, um experimento que está no seu décimo nono ano, onde um dos atores é o Grupo de Pesquisa em Ecologia do Pastejo da Faculdade de Agronomia da UFRGS, vem apresentando resultados muito satisfatórios relacionados aos benefícios da presença do animal no período de inverno para o solo e consequentemente para a cultura da soja no verão.Os resultados demonstram que quando as pastagens de inverno são manejadas em alturas iguais ou superiores a 20 cm é possível obter ganhos por animal superiores a 1 kg de peso vivo/cabeça/dia e ganhos por hectare que podem variar ao redor de 350 kg de peso vivo. “Com relação ao desenvolvimento das pastagens quando manejamos com um pastejo moderado existe um aumento na produção de raízes e uma melhor distribuição das mesmas no perfil do solo comparado às áreas sem pastejo ou com pastejo intensivo (10 cm de altura de manejo do azevém)”, assinala ele.
Aos números de hoje, 350 kg de peso vivo de novilhos sobreano, estamos falando em uma renda bruta por hectare de cerca de R$ 2.450,00, descontando as despesas de fertilização e compra dos animais, sobra para o produtor ao redor de R$ 1.800,00 por hectare, transformando em sacos de soja, de 20 sacos por hectare (saca da soja a R$ 90), em um período em que essa área não estaria gerando receita ao produtor. “Esse resultado já estamos conseguindo em propriedades que atendemos desde 2011”, assegura.
Neste mesmo experimento os resultados na soja são bastante interessantes. Comparando o estande da lavoura nas diferentes alturas de manejo do azevém/aveia só teremos redução da população de plantas de soja quando a pastagem é manejada a 10 cm desde que ocorra um período seco na época da implantação, caso contrário, a própria plantadeira rompe a camada compactada superficial e num ano chuvoso não teremos diferença no estande da lavoura de soja independente da altura de manejo da pastagem de inverno.
Gotuzzo ressalta que nos anos secos a presença do animal faz com que se tenha uma estabilidade financeira da atividade, pois independente da altura de manejo da pastagem e consequentemente da produção da lavoura a receita bruta é a mesma para todos os tratamentos, ou seja, a produção animal compensa a redução da produção da soja. “Podemos ter ótimos resultados na ILP se tratarmos os sistemas de forma integrada e com isso haverá um sinergismo entre as diferentes atividades beneficiando todo o processo”, finaliza o consultor.
Fonte: Agrolink