De um universo de 504 produtores rurais, 107 (21,2%) afirmaram que a principal função das soluções digitais aplicadas na fazenda é para o bem-estar animal, especialmente com dispositivos automáticos de climatização e de conforto térmico para a criação de rebanhos. Por outro lado, há um número considerável de 190 pecuaristas (38%) que querem adotar um sistema digital que garanta essa mesma função.
Os dados fazem parte do estudo inédito “Agricultura Digital no Brasil: tendências, desafios e oportunidades”, feito numa parceria entre a Embrapa, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“O estudo, devido à pandemia, foi feito por preenchimento de questionários on-line”, diz o geógrafo Édson Luis Bolfe, coordenador do estudo e pesquisador na área de geoprocessamento e sensoriamento remoto da Embrapa Informática Agropecuária, em Campinas (SP). “Não imaginávamos tanta participação de pecuaristas na pesquisa.”
Dos 504 produtores, 273 se declararam como pecuaristas. A maioria deste grupo, 167 (33,1%), são de bovinocultores de corte. Outro dado importante é que 122 produtores (24,2%) dizem adotar sistemas de integração de lavoura e pecuária.
A pesquisa on-line ocorreu entre os dias 17 de abril a 2 de junho. Além de tratar o perfil comportamental dos produtores, o estudo também buscou analisar quem são as empresas que fornecem as ferramentas digitais. No total, 753 pessoas responderam todas as questões propostas.
Oportunidades à vista
Os números que mostram a necessidade de sistemas digitais para o bem-estar animal são um grande indicativo. Segundo Bolfe, esse é um espaço ainda pouco explorado pelas empresas. Do universo de 249 empresas, apenas 54 disseram ter ferramentas digitais com aplicação de bem-estar animal. “A pesquisa revela um indicativo pois há uma demanda.”
Outra oportunidade identificada pelo coordenador da pesquisa são de soluções para certificação e rastreabilidade da produção.
“Agora, mais do que nunca, a pecuária necessitará de ferramentas que comprovem a origem da produção”, afirma Bolfe.
Cerca de 14% dos produtores (69) disseram que fazem o uso de ferramentas digitais para certificar sua produção e 33% (164) querem adorar este tipo de ferramenta.
Evolução do campo digital
O retrato identificado pelo estudo revela um agro digital que demanda prioritariamente por serviços básicos, como acesso à internet e aplicativos para a troca de informações (WhatsApp e Facebook). Estes dois itens aparecem em 1º e 2º lugares, respectivamente, entre as tecnologias mais utilizadas pelos produtores.
Mas, para o pesquisador, a demanda tende a ser cada vez mais refinada e com uso de ferramentas mais sofisticadas daqui para frente. “Trata-se de um início. Antes só tínhamos uma fala vaga de que a digitalização do agro está crescendo. Mas crescendo em relação a quê?”, diz Bolfe. “A partir dessa pesquisa essa necessidade passa a ser mensurada.”
O pesquisador sinaliza que o estudo possa vir a se tornar corrente. “Talvez daqui a dois anos possamos fazer um novo levantamento com novas questões até. Nem tínhamos pensado nessa possibilidade, mas como você foi o quinto jornalista a me fazer essa mesma pergunta, acendeu o sinal de alerta para que novas pesquisas sejam realmente feitas.”
Fonte: Portal DBO