De acordo com o Instituto Soja Livre, a ausência de prêmios aos produtores desestimulou o cultivo dos grãos não-transgênicos, que dá mais trabalho.
A produção de soja não-transgênica deve ocupar 600 mil hectares em Mato Grosso na safra 2020/2021, o que equivale a apenas 6% da área total destinada às lavouras da oleaginosa, de acordo com o Instituto Soja Livre. Se a projeção se confirmar, será a segunda menor área ocupada pela convencional nos últimos cinco anos no estado. O índice mais alto foi alcançado em 2017/2018, quando ocuparam 18% da área.
“A gente vê ondas: quando há valores altos de prêmios, a área aumenta. Quando não tem, diminui. O cultivo requer um cuidado diferente no transporte, na exportação, então precisa remunerar a cadeia, e ela não estava sendo remunerada”, afirma o presidente do Instituto Soja Livre, Endrigo Dalcin.
O principal comprador da variedade é a Europa. Porém, segundo Dalcin, o bloco preferiu comprar soja e farelo da Índia sem prêmio em anos anteriores. “A nossa tem toda qualidade, rastreabilidade, cuidados com o meio ambiente e certificações. Mas parece que a Europa nesse momento não se importava muito com essa questão, olhando mais para os preços”, diz.
O diretor de Assuntos Internacionais da entidade, Ricardo Arioli, afirma que isso mudou e há uma grande demanda da Europa agora, pagando um prêmio até melhor do que os registrados nas últimas três temporadas. Porém, é tarde demais. “Provavelmente teremos um prêmio aquecido, mas não teremos soja para atender a demanda europeia, porque os produtores já tomaram suas decisões de plantio”, pontua.
O agricultor Osmar Frizzo é um dos que ficaram desestimulados. Até o ano passado, ele destinava quase metade dos 2.550 hectares da propriedade para a produção do grão convencional. Na nova safra, 100% da lavoura será de culturas transgênicas. “Esse prêmio é fundamental. Espero que isso se reverta, porque para a agricultura de Mato Grosso e do Brasil, seria muito bom se não ficássemos dependentes da soja transgênica”, diz.
A demanda aquecida na Europa e a abertura de novos mercados compradores pode melhorar o cenário, segundo o instituto. “A China, por exemplo, que é uma grande compradora de soja modificada geneticamente, também tem interesse pela soja convencional, porque eles a usam para o consumo humano, e a produção deles não tem mais como crescer”, diz Endrigo Dalcin.
A entidade vem trabalhando em estratégias para estimular o cultivo e estabilizar a produção do grão convencional nos próximos anos. “O produtor faria um contrato do prêmio da soja convencional e se comprometeria a entregar nas próximas duas safras, isso regula o mercado”, comenta Arioli.
FONTE: CANAL RURAL